29 novembro, 2014

Shatiln, o Caçador Silencioso - Parte Final

Finalmente, após longas horas de caminhada, quando a lua já alcançara o topo do firmamento, o Caçador Silencioso alcançou a clareira que tanto procurara. Era um espaço com raio considerável sem árvores e com uma curiosidade: formava um círculo perfeito. Agora, eu só preciso esperar.

Muitos no lugar de Shatiln teriam perdido a concentração, mas aquele eladrin sabia por que estava ali. Ele aguardou pacientemente com os olhos fixos em uma pequena pedra no centro da clareira. Era dali que viria o que ele tanto aguardava.
O Caçador Silencioso viu a lua descer e sol azul de Aohi tomar o seu lugar. Foi justamente no roxeado da alvorada que ele ouviu o som vindo do subterrâneo. O barulho começou a se expandir pouco a pouco. De repente, o que eram apenas ruídos viraram tremores. Shatiln se preparou.
Rapidamente, rachaduras brotaram exatamente a partir da pedra que o Caçador Silencioso observara e se espalharam quase simetricamente para todas as direções, formando um círculo. À medida que isso ia acontecendo, os tremores ficavam mais fortes e Shatiln se afastava de modo a garantir que o chão que o sustentava não abrisse. Uma hora, você ia ter que sair.
Ouviu-se um estrondo por toda a Draig’a Coedwig quando aquela criatura colossal emergiu da terra deixando um abismo abaixo de si. A clareira de outrora tornara-se uma cratera gigantesca. Eu não fui visto. Enquanto aquele ser monstruosamente grande voava para longe, o Caçador Silencioso se aproximou do buraco deixado para trás. Como eu imaginei... Não dá para eu pular aí dentro... E, por Avandra, eu nunca vi tanto outro junto na minha vida! Dentro de onde saíra o monstro voador, havia montanhas de ouro espalhadas por todo o espaço. O lugar perfeito para se esconder uma árvore é em uma floresta. O lugar perfeito para se esconder um colar dourado é em uma pilha de ouro.
Shatiln pegou uma corda e a amarrou em uma árvore a alguns passos de distância da cratera. Eu sabia que ia valer a pena comprar a de cinquenta metros. Em seguida, ele lançou a outra ponta na cratera. Com muito cuidado, o Caçador Silencioso deslizou para dentro do ninho daquela fera. Considerando que o monstro precisou quebrar a terra para sair daqui, ele vai estar com fome o bastante para demorar algumas horas.
O suave tilintar das moedas de ouro foi o único som que Shatiln produziu em sua descendente. Imediatamente em seguida, o Caçador Silencioso começou a procurar por qualquer sinal do Vinter’e Fershe.
Moedas e mais moedas, facas, espadas, joias, diamantes, todo o tipo de tesouro estava à disposição do eladrin, mas a quantidade de tesouro dentro daquela caverna chegava a ser desconcertante. Nesse ritmo, eu vou virar comida antes de sentir o cheiro do Vinter’e Fershe.
“Pensa... Pensa...”, sussurrou Shatiln para si mesmo. Tesouros muito especiais merecem espaços especiais. Ele olhou ao seu redor e percebeu que na parede da cratera, a alguns metros do piso, havia uma cova. Sem pensar duas vezes, o Caçador Silencioso se aproximou e fez uma constatação: ele teria que escalar.
Shatiln olhou para cima, buscando confirmar se a criatura ainda estava ausente, e se pôs a subir. Um membro de cada vez, Caçador Silencioso foi se erguendo e se aproximando do seu objetivo. Olhar para baixo era proibido enquanto ele subia. Não podia se distrair.
Com a agilidade natural dos eladrins, Shatiln demorou poucos minutos para alcançar o seu objetivo. A cova era grande o bastante para abrigar a criatura que saíra daquele lugar mais cedo, mas não muito mais. O monstro deve usar esse espaço para dormir.
Naquele lugar, não havia muito para se procurar. Logo que entrou, o Caçador Silencioso avistou uma pedra ao fim da cova, onde, em seu topo, algo brilhava. Shatiln foi até ela e seus olhos admiraram enquanto seus lábios mostravam um sorriso de satisfação. Era um colar dourado com brilho avermelhado, nele havia um pingente com catorze runas gravadas em arcaniano, a língua mais tradicional para a prática de magia arcana. Vinter’e Fershe, finalmente, eu te encontrei!
Shatiln se aproximou o colar e pegou um pergaminho que guardara dentro de sua bota direita. Vamos ver se está amaldiçoado. O pedaço de papel era um feitiço de aluguel, ou seja, alguém o conjurara e o prendera ali para que outra pessoa o utilizasse posteriormente. No caso, tratava-se de uma contra-maldição. O Caçador Silencioso disse as palavras que lhe haviam sido ensinadas e apenas observou enquanto um feixe de luz verde foi projetado no colar. Este se manteve instável por alguns segundos e, então, se dissipou. Ótimo, nada de maldição.
Finalmente, o Caçador Silencioso podia sair dali. Ele se virou e foi para a entrada da cova. Um som estrondoso foi ouvido reverberando naquela cratera. Era o bater de asas de uma criatura enorme e perigosa. Era o rugido de um dos seres mais temidos de Aohi. Era um poderoso dragão verde.
Sem que Shatiln tivesse tempo para pensar, aquele ser imenso o viu e, imediatamente, voou mostrando as presas com a intenção de atacá-lo. Sem muita opção, o Caçador Silencioso saltou da cova para uma imensa pilha de ouro na expectativa que as moedas amortecessem sua queda. O dragão verde o errou por milímetros e parou dentro da cova.
Em seguida, aquela criatura investiu novamente contra Shatiln, que, mais uma vez, saltou para o lado e, mesmo desequilibrado, conseguiu escapar daquela fera. Eu vou precisar lutar.
Rapidamente, o Caçador Silencioso desembainhou Gwæd e Marwolæth e encarou aquele réptil incrivelmente grande e poderoso. O que se viu em seguida, porém, foi mais um ataque do dragão, daquela vez, vindo de sua arma mais temida: o sopro. A fera abriu a boca e lançou uma rajada de veneno corrosivo da qual Shatiln tentou novamente se esquivar, mas, diferentemente das outras vezes, não teve muita sorte. Ao saltar, sua perna esquerda fora atingida em cheio. O mundo começou a se mover lentamente.
O Caçador Silencioso estava próximo a uma parede e, com seu braço esquerdo, conseguiu levantar. Não havia muito tempo. O dragão verde se atirou contra ele e ia esmagá-lo. Não havia muito tempo. Shatiln posicionou Gwæd e Marwolæth armando um contra-ataque. Não havia muito tempo. Ele sabia fazer uso do poder inerente a todos os eladrins. Não havia muito tempo. As escamas esverdeadas daquele réptil tocaram a pele de sua presa. Não havia muito tempo. O dragão verde atingiu em cheio, com toda a sua força, a parede da caverna. Um segundo antes da morte iminente, Shatiln usou sua habilidade de teleporte, poder este que qualquer eladrin tinha a capacidade de utilizar, e moveu-se para trás do seu algoz. Fatalmente, o réptil estava desorientado. Aproveitando-se disso e do fato de o monstro estar caído, o Caçador Silencioso subiu em seu pescoço e fincou gwæd nele.
Tolchenart u gwæd”, sussurrou Shatiln e, pouco a pouco, o sangue que saia lentamente por onde a espada estava fincada começou a coagular. O dragão verde tentou se debater, mas o Caçador Silencioso não se moveu. Pouco a pouco, o réptil perdeu a consciência. E a vida.
Com muita dor, o eladrin se levantou e olhou para o alto. Mais uma missão havia sido cumprida.