Shatiln viu de
longe o porco selvagem comendo um pouco de grama. Ele está isolado de seu bando, pensou. Com muita calma, ele se
aproximou do animal. Por mais que estivesse faminto, sabia que não podia se
precipitar.
Aproveitando
espaços em que a relva estava alta o bastante para escondê-lo, Shatiln encurtou
a distância para o suíno. Com muito cuidado, desembainhou suas duas espadas
bastardas, Gwæd, cuja lâmina era vermelho-sangue, e Marwolæth,
que era predominantemente preta e roxa. Ainda com cautela, continuou encurtando
sua distância para o seu alvo.
À medida que se aproximava do animal, Shatiln
tomou o cuidado de sempre olhar ao seu redor. Por mais que as chances de cruzar
com outro caçador naquele lugar fossem mínimas, ele não queria correr o risco.
Finalmente, estava à poucos metros do
porco. A inocente criatura não fazia ideia do perigo que se aproximava. Shatiln
procurou uma pequena elevação no terreno, de forma que ficou acima da sua
presa.
Repentinamente, o caçador saltou contra
o animal, atingindo seu pescoço com Gwæd. O sangue do porco jorrava levando
consigo a vida de seu possuidor. O Caçador Silencioso, como era conhecido Shatiln
no submundo, fizera mais uma vítima.
Usando pedras e
gravetos, o Caçador Silencioso fez uma fogueira, a qual estava usando para
assar a carne do animal que acabara de caçar. Sua pele excessivamente branca
para um eladrin contrastava com suas roupas totalmente pretas. Seus curtos
cabelos negros estavam escondidos por seu capuz. Seus olhos azuis como safira
estavam fixos no horizonte, com um lugar específico em mente. Um local para
onde jamais poderia retornar.
Shatiln observou
que o porco já estava pronto para ser comido e, assim, se serviu. Suas orelhas
pontiagudas se mantiveram constantemente atentas a quaisquer ruídos estranhos
enquanto sua boca concentrava-se em consumir o alimento previamente caçado.
Um porco inteiro
era muito mais comida do que Shatiln precisava e, consequentemente, o Caçador
Silencioso deixou para trás uma grande quantidade de carne. Servirá de comida para outros animais.
Shatiln demorou
muito tempo para isso, mas chegou à famosa Draig’a Coedwig, uma imensa floresta
no coração de Drakônia. O Caçador Silencioso não tinha muito tempo para
concluir sua missão.
O sol azul já
estava se encontrando com a linha do horizonte, preenchendo o céu com a cor
roxa do crepúsculo. A escuridão é quando
tudo conspira a meu favor.
Shatiln adentrou
a selva com a naturalidade que só uma criatura féerica como ele era capaz de
ter. O Caçador Silencioso era letal em meio às árvores e todo aquele verde que
se alastrava por todos os lados. É bom
que aquele tesouro valha a pena.
Já fazia meses
que aquele eladrin havia decidido encontrar Vinter’e Fershe, um colar lendário
perdido havia eras. Foram meses de pesquisa para concluir o que acontecera com
a relíquia. Após isso, uma jornada que já durava quase um ano o levara ao
longínquo continente dos dragões.
Sempre que ouvia
algum tipo de ruído, Shatiln se escondia atrás de alguma árvore. Entrar em
combate seria extremamente perigoso, portanto, o Caçador Silencioso, tomava
todas as precauções possíveis para que isso não acontecesse.
“De acordo com o
que estudei, deve haver uma passagem para o subterrâneo em algum lugar por aqui”,
disse para si mesmo. Pelos mapas que analisara, recorrendo a estudos geológicos
feitos com tecnologia de Hopeland, a Draig’a Coedwig havia crescido cerca de
quinhentos metros acima de um gigantesco bolsão de ar. Havia na floresta
algumas cavernas que se ligavam ao mesmo, mas costumavam ser extremamente perigosas
devido ao elevado grau de inclinação delas. Justamente por esse motivo, quase
ninguém se aventurava por elas. Seria preciso asas para não correr riscos.
Enquanto
caminhava, Shatiln avistou frutas vermelhas se oferecendo em um pequeno
arbusto. As mesmas lembravam cerejas, mas tinham pequenas manchas em tom mais
escuro em sua casca. As frutas aqui são
quase unanimemente venenosas. Não é seguro comê-las.
A brisa
continuava a soprar e, com ela, trazia o leve frio da noite. O Caçador
Silencioso manteve-se concentrado, mesmo com a falta de movimento em seus
arredores. Shatiln tinha consciência que estava pisando em terreno perigoso e
que qualquer erro poderia ser fatal. Só
tem uma clareira nessa floresta... Tem que ser lá!
Mesmo começando
a sentir o cansaço, aquele eladrin recusava-se a parar. Ocasionalmente, Shatiln
ouvia o barulho de alguma fruta caindo de uma árvore e se assustava,
imediatamente levando as mãos a Gwæd e Marwolæth. Entretanto, ao notar que era
um alarme falso, se acalmava de novo.
Finalmente, após
longas horas de caminhada, quando a lua já alcançara o topo do firmamento, o
Caçador Silencioso alcançou a clareira que tanto procurara. Era um espaço com
raio considerável sem árvores e com uma curiosidade: formava um círculo
perfeito. Agora, eu só preciso esperar.