22 novembro, 2014

Shatiln, o Caçador Silencioso - Parte 1

Shatiln viu de longe o porco selvagem comendo um pouco de grama. Ele está isolado de seu bando, pensou. Com muita calma, ele se aproximou do animal. Por mais que estivesse faminto, sabia que não podia se precipitar.
Aproveitando espaços em que a relva estava alta o bastante para escondê-lo, Shatiln encurtou a distância para o suíno. Com muito cuidado, desembainhou suas duas espadas bastardas, Gwæd, cuja lâmina era vermelho-sangue, e Marwolæth, que era predominantemente preta e roxa. Ainda com cautela, continuou encurtando sua distância para o seu alvo.
À medida que se aproximava do animal, Shatiln tomou o cuidado de sempre olhar ao seu redor. Por mais que as chances de cruzar com outro caçador naquele lugar fossem mínimas, ele não queria correr o risco.
Finalmente, estava à poucos metros do porco. A inocente criatura não fazia ideia do perigo que se aproximava. Shatiln procurou uma pequena elevação no terreno, de forma que ficou acima da sua presa.
Repentinamente, o caçador saltou contra o animal, atingindo seu pescoço com Gwæd. O sangue do porco jorrava levando consigo a vida de seu possuidor. O Caçador Silencioso, como era conhecido Shatiln no submundo, fizera mais uma vítima.

Usando pedras e gravetos, o Caçador Silencioso fez uma fogueira, a qual estava usando para assar a carne do animal que acabara de caçar. Sua pele excessivamente branca para um eladrin contrastava com suas roupas totalmente pretas. Seus curtos cabelos negros estavam escondidos por seu capuz. Seus olhos azuis como safira estavam fixos no horizonte, com um lugar específico em mente. Um local para onde jamais poderia retornar.
Shatiln observou que o porco já estava pronto para ser comido e, assim, se serviu. Suas orelhas pontiagudas se mantiveram constantemente atentas a quaisquer ruídos estranhos enquanto sua boca concentrava-se em consumir o alimento previamente caçado.
Um porco inteiro era muito mais comida do que Shatiln precisava e, consequentemente, o Caçador Silencioso deixou para trás uma grande quantidade de carne. Servirá de comida para outros animais.

Shatiln demorou muito tempo para isso, mas chegou à famosa Draig’a Coedwig, uma imensa floresta no coração de Drakônia. O Caçador Silencioso não tinha muito tempo para concluir sua missão.
O sol azul já estava se encontrando com a linha do horizonte, preenchendo o céu com a cor roxa do crepúsculo. A escuridão é quando tudo conspira a meu favor.
Shatiln adentrou a selva com a naturalidade que só uma criatura féerica como ele era capaz de ter. O Caçador Silencioso era letal em meio às árvores e todo aquele verde que se alastrava por todos os lados. É bom que aquele tesouro valha a pena.
Já fazia meses que aquele eladrin havia decidido encontrar Vinter’e Fershe, um colar lendário perdido havia eras. Foram meses de pesquisa para concluir o que acontecera com a relíquia. Após isso, uma jornada que já durava quase um ano o levara ao longínquo continente dos dragões.
Sempre que ouvia algum tipo de ruído, Shatiln se escondia atrás de alguma árvore. Entrar em combate seria extremamente perigoso, portanto, o Caçador Silencioso, tomava todas as precauções possíveis para que isso não acontecesse.
“De acordo com o que estudei, deve haver uma passagem para o subterrâneo em algum lugar por aqui”, disse para si mesmo. Pelos mapas que analisara, recorrendo a estudos geológicos feitos com tecnologia de Hopeland, a Draig’a Coedwig havia crescido cerca de quinhentos metros acima de um gigantesco bolsão de ar. Havia na floresta algumas cavernas que se ligavam ao mesmo, mas costumavam ser extremamente perigosas devido ao elevado grau de inclinação delas. Justamente por esse motivo, quase ninguém se aventurava por elas. Seria preciso asas para não correr riscos.
Enquanto caminhava, Shatiln avistou frutas vermelhas se oferecendo em um pequeno arbusto. As mesmas lembravam cerejas, mas tinham pequenas manchas em tom mais escuro em sua casca. As frutas aqui são quase unanimemente venenosas. Não é seguro comê-las.
A brisa continuava a soprar e, com ela, trazia o leve frio da noite. O Caçador Silencioso manteve-se concentrado, mesmo com a falta de movimento em seus arredores. Shatiln tinha consciência que estava pisando em terreno perigoso e que qualquer erro poderia ser fatal. Só tem uma clareira nessa floresta... Tem que ser lá!
Mesmo começando a sentir o cansaço, aquele eladrin recusava-se a parar. Ocasionalmente, Shatiln ouvia o barulho de alguma fruta caindo de uma árvore e se assustava, imediatamente levando as mãos a Gwæd e Marwolæth. Entretanto, ao notar que era um alarme falso, se acalmava de novo.

Finalmente, após longas horas de caminhada, quando a lua já alcançara o topo do firmamento, o Caçador Silencioso alcançou a clareira que tanto procurara. Era um espaço com raio considerável sem árvores e com uma curiosidade: formava um círculo perfeito. Agora, eu só preciso esperar.