28 novembro, 2014

Tribulado despertar

Como pode um poeta ser rei e outros milhões de poetas serem nada?
Com a inquietante querela a preencher-me
Procuro para sempre procurar
Os ritmos que conduzem esta trêmula expiração

No sonho com braços e mãos imitando braços e mãos que pudera existissem
No vento que carrega as sílabas de um piano cheio de erros da casa do vizinho
Nos tubos que levam o alimento ao doente na esperança de que ele viva pelo menos mais um infinito
Nos gritos protestantes de uma criança que chama pela mãe com o fôlego de um cristão que chama seu salvador

Tudo que diz pouco e nunca tudo
Tudo que despenca no decorrer do mundo
Tudo que ocupa seu espaço
Como eu ocupo meu espaço
Numa humilde pétala do cosmos
Irrigada a quatro dimensões
Sem que em nenhuma delas
Eu encontre meu juízo

(Wlange Keindé)